A Conservação também depende dos Zoológicos
Desde a sua criação, os Zoológicos de todo o mundo enfrentam hoje uma missão completamente diferente da que levou à sua invenção. A missão de Conservação das espécies, que se tornou urgente nas últimas décadas, é, neste momento, um dos pilares para a existência de Zoológicos e é esta missão que pode até “salvar” algumas espécies da extinção.
Andreia Pinto, curadora do Zoo de Lourosa, explica a importância e urgência de proteger cada espécie: “Todas as espécies desempenham o seu papel na cadeia alimentar. Havendo a falta de uma espécie, seja ela qual for, existe uma quebra e o ecossistema deixa de estar em equilíbrio. Isto tem um efeito nefasto na natureza e tem impacto sobre o Homem. Temos o exemplo da crise dos abutres na Índia. As três espécies aí existentes assistiram a um declínio sem precedente, de mais de 97% da sua população, entre o final do século XX e o início do século XXI, devido à utilização do diclofenaco (medicamento anti-inflamatório) para fins veterinários em animais de produção. Medicamento este que se provou ser letal aos abutres que se alimentam das carcaças desses animais. A quase extinção destes necrófagos tão eficientes está diretamente associada à propagação de zoonoses e ao aumento da incidência de casos de raiva”.
De acordo com a engenheira Zootécnica, “a Conservação de espécies em cativeiro pretende construir populações de apoio a longo termo, mantendo a diversidade genética da população original, das quais possam ser reintroduzidos animais em habitat natural, caso seja necessário. Permite ainda investigar os diversos aspetos da biologia animal, para melhorar o nosso entendimento dos animais e de como vivem e interagem”.
“O Faisão-do-vietname e a Maina-de-bali sobrevivem nos dias de hoje apenas graças à sua reprodução em cativeiro”
O Zoo de Lourosa também participa neste esforço mundial pela conversação, Andreia Pinto revela que são 26 as espécies cujo estatuto de conservação de acordo com a IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) se encontra entre vulnerável e criticamente em perigo. “As espécies vulneráveis presentes no Zoo de Lourosa são a Coruja-das-neves, o Calau-terrestre, o Calau-bicorne, o Calau-rinoceronte, o Grande-mutum, o Faisão-nobre, o Faisão-venerado, o Faisão-de-palawan, o Faisão-argus e o Faisão-de-rothschild. As espécies em perigo são o Secretário, o Papagaio-cinzento, o Papagaio-cinzento-timneh, O Papagaio-amazonas-de-fronte-vermelha, Papagaio-amazonas-de-finsch, o Mutum-de-bico-vermelho, o Mutum-de-elmo, o Pavão-verde, o Calau-enrugado, o Grou-do-japão e o Grou-coroado. As espécies criticamente em perigo são o Faisão-do-vietname, a Maina-de-bali, o Mutum-de-bico-azul, a Arara-de-fronte-vermelha e a Arara-ambígua”. A especialista do Zoo de Lourosa adianta que “as espécies que se encontram criticamente em perigo são as mais preocupantes, porque são aquelas cujos números em habitat natural são extremamente reduzidos e comprometem a sua viabilidade. O Faisão-do-vietname e a Maina-de-bali sobrevivem nos dias de hoje apenas graças à sua reprodução em cativeiro. Ambas as espécies dependem diretamente da reintrodução de animais nascidos em cativeiro no seu habitat natural, para que possam continuar a viver em estado selvagem. A Arara-de-fronte-vermelha, a Arara-ambígua e o Mutum-de-bico-azul devem os seus baixos números à captura ilegal, à redução do seu habitat devido à implementação da agricultura, do comércio e exploração da floresta para diversos fins e à poluição produzida por estas actividades”. O Zoo de Lourosa participa num total de 33 Programas Ex situ da EAZA (EEPs) e reproduz com sucesso algumas destas espécies, nomeadamente o Faisão-do-vietname, o Grou-do-japão e o Casuar-comum, entre outras. Coordena ainda os EEPs do Urubú-rei e do Calau-de-casco-cinzento, sendo responsável pelo acompanhamento, orientação e elaboração de recomendações aos Zoos que albergam estas espécies em toda a Europa.
“Os Zoos têm aqui um papel muito importante, de educar os seus visitantes sobre os animais, os seus habitats e as ameaças que estes enfrentam”
Andreia Pinto lembra ainda que “o habitat natural em Portugal é alvo de ameaças semelhantes aos habitats naturais em todo o mundo. Todas as ameaças estão relacionadas, de uma forma ou de outra, com a atividade humana e a forma como esta explora e utiliza os recursos naturais para proveito próprio, sem salvaguardar o futuro”. Mas a curadora do Zoo de Lourosa defende que é através de outra das missões do Zoo, a de Educação, que a proteção das espécies autóctones pode ser reforçada, “é fundamental criar uma consciência ambiental coletiva. Os Zoos têm aqui um papel muito importante, de educar os seus visitantes sobre os animais, os seus habitats e as ameaças que estes enfrentam e transmitindo conhecimentos sobre como viver de forma sustentável fazendo parte da natureza”, adianta.
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